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FILMES

Godzilla e Kong se candidata à vaga de Transformers no playground da catástrofe

Monsterverse leva cinco filmes para abraçar o lúdico plenamente, com certo cansaço

Faz 10 anos que saiu o Godzilla dirigido por Gareth Edwards, e as questões que envolviam o lançamento na época - a revelação do monstro em cena, o mérito dos dramas humanos que acompanhamos no filme - parecem absolutamente datadas. Godzilla e Kong: O Novo Império não faz suspense ou cerimônia pré-pancadaria nem trata seus personagens como se fossem mais do que entregadores de exposição. É um filme feito no automático no sentido em que tudo o que importa é o prazer descomplicado dos finalmentes.

Talvez tenha até demorado muito. Foi preciso cinco longas-metragens e um seriado ao longo dessa década para que o chamado Monsterverse pleiteasse a vaga desocupada por Transformers no imaginário lúdico desses filmes-desastres. Sai todo o espanto e o senso de escala desproporcional com que a humanidade (e a Monarch com seus mistérios) recebia os kaijus, entram os duelos sem consequência desses action figures gigantes, cujo rastro de destruição nunca se torna um fato em si depois da sua passagem.

Pacific Rim (2013) já fazia o lúdico com graça naquela época, e deixemos hoje a gravidade da destruição para filmes como Godzilla Minus One (2023). Na prática, este segundo longa de Godzilla e King Kong entende que está chegando atrasado no playground, daí a multiplicação exponencial de monstros (são mais criaturas colossais do que protagonistas humanos a essa altura) e soluções de luta mais acrobáticas, como a ação em gravidade zero (que inclusive fora um dos atrativos de Transformers 4). De qualquer modo, com atraso ou sem atraso, essa gramática do cinema-catástrofe e das lutas sem perigo ou consequência é a norma, uma vez que o próprio MCU se esmerou em fixá-lo em todo e qualquer blockbuster superdimensionado.

Uma vantagem é que, uma vez que já sabemos muito bem o que esperar desses filmes, eles não precisam mais respeitar os pudores do scifi de ação pretensamente naturalista. Fica firmado um contrato de exagero com o público, então encontrar uma civilização perdida no centro da Terra que vive dentro de uma membrana plasmática de mariposa e se comunica telepaticamente com gorilas gigantes se torna não só plenamente aceito como até previsível. O papel que cabe aos personagens humanos nesse contexto é apresentar-se também como variações do cartunesco; Dan Stevens está bem à vontade nesse jogo e Brian Tyree Henry (sequestrado de novo pelo estereótipo do negro acovardado que os filmes de ação insistem em reproduzir) está menos.

Se Godzilla e Kong não encontra pra si uma voz ou expressão própria dentro dessas regras muito soltas e permissivas, talvez seja porque não sabe direito como delimitá-las ou harmonizá-las. As intervenções dos personagens humanos, por mais que invistam no humor, são pouco mais do que uma contingência do roteiro, com seus diálogos dados em tom de burocracia para explicar em voz alta ao espectador onde estamos entrando, o que estamos vendo e o quão empolgados deveríamos estar com a ação que transcorre aos nossos olhos. O filme funciona melhor quando elimina esse texto por completo, nas dinâmicas mudas de Kong com os outros primatas que descobre no centro da Terra.

Até mesmo como passeio de parque de diversões - em que as mudanças de cenário funcionam como trocas de atrações sem a necessidade de encadear uma na outra - Godzilla e Kong parece operar num automatismo sem muita consideração. Quando a trama de repente nos revela que existe um bolsão secreto de vida dentro do bolsão secreto de vida que tinha acabado de ser revelado, a única lógica que explica essa boneca russa é a lógica da novidade. O filme vai se reiniciando atrás de novidades, na esperança de que alguma dessas entregas descartáveis de frenesi tenha realmente a cara de algo novo ou satisfatório.

 

FONTE:https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/godzilla-kong-novo-imperio-filme-critica

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